Caetano Veloso aos 83 anos: o auge renovado de um ícone eterno da MPB

Aos 83 anos de idade, completados em 7 de agosto de 2025, Caetano Veloso vive, paradoxalmente, um dos momentos mais vigorosos e celebrados de sua trajetória de seis décadas. Longe de qualquer sinal de aposentadoria, o cantor e compositor baiano atravessa 2025 com uma agenda lotada de shows em grandes palcos, lançamentos previstos e uma presença pública que mistura reverência histórica com atualidade surpreendente. O que poderia ser apenas uma comemoração nostálgica transformou-se em um capítulo renovado de criação e reinvenção.

O ano começou com apresentações marcantes no Festival de Inverno Rio, em Petrópolis, e seguiu com um show memorável na praia de Copacabana, ao lado de nomes como Maria Bethânia e Moreno Veloso. Em setembro, o Coala Festival, em São Paulo, recebeu Caetano como atração principal, lotando o Anhembi com um público que ia dos anos 1960 aos nascidos neste século. Em dezembro, o festival Estilo Brasil, no Memorial da América Latina, coroará uma temporada que já entrou para os registros como uma das mais intensas de sua carreira.

No palco, a voz permanece cristalina e a presença cênica, magnética. Repertórios misturam clássicos intocáveis – “Alegria, Alegria”, “Sampa”, “Podres Poderes”, “O Leãozinho” – com faixas recentes, como as do elogiado “Meu Coco” (2021), e canções inéditas que o artista vem testando ao vivo. A crítica tem destacado não apenas a forma física invejável, mas sobretudo a capacidade de dialogar com o Brasil de 2025 sem perder a acidez poética que sempre o definiu.

Fora dos holofotes, Caetano mantém uma rotina de composição que impressiona colaboradores mais jovens. Em entrevistas recentes, revelou estar finalizando um novo álbum de estúdio, com lançamento previsto ainda para 2025 ou início de 2026, e colaborações que incluem nomes da nova geração, como Tim Bernardes e Zeca Veloso. A produção, segundo pessoas próximas, traz arranjos sofisticados e letras que continuam a radiografar o país com precisão cirúrgica.

A vitalidade do artista também se reflete na relação com o público. Shows esgotam em minutos, ingressos atingem preços elevados no mercado secundário e as plateias cantam em uníssono versos escritos há meio século como se fossem hinos contemporâneos. Fenômeno raro na música brasileira, Caetano conseguiu atravessar gerações sem diluir sua identidade tropicália nem se tornar mera relíquia.

Críticos e acadêmicos já começam a falar em “terceiro ato” da carreira de Caetano – após o impacto revolucionário dos anos 1960-70 e a maturidade sofisticada das décadas seguintes. Aos 83 anos, ele não apenas resiste ao tempo: desafia-o, provando que a velhice, em seu caso, não é sinônimo de repetição, mas de expansão contínua.

Enquanto muitos artistas de sua geração optaram pelo conforto da memória, Caetano Veloso escolheu o risco da criação permanente. E o Brasil, grato e atônito, acompanha cada passo desse octogenário que se recusa a envelhecer no palco – e, sobretudo, na alma.