
A manhã de 22 de novembro de 2025 começou com o barulho de viaturas da Polícia Federal rompendo o silêncio do Jardim Botânico, em Brasília. Jair Bolsonaro, que já vivia sob prisão domiciliar após condenação por tentativa de golpe de Estado, foi retirado de casa e levado algemado para a superintendência da PF no Distrito Federal. O que parecia ser apenas mais um capítulo de uma longa saga judicial ganhou contornos dramáticos por um motivo inesperado: um vídeo publicado pelo filho mais velho na tarde anterior.
Flávio Bolsonaro gravou e divulgou um apelo emotivo convocando uma vigília de oração em frente ao condomínio do pai. Com tom messiânico, o senador falou em buscar “o Senhor dos Exércitos”, citou provérbios bíblicos e pediu que os apoiadores se reunissem às 19h daquele mesmo sábado para orar pela saúde de Jair Bolsonaro e, nas palavras dele, “pela volta da democracia no Brasil”. O vídeo se espalhou como fogo em palha seca entre os grupos bolsonaristas, reacendendo memórias dos acampamentos que antecederam os atos de 8 de janeiro.
Flávio Bolsonaro gravou e divulgou um apelo emotivo convocando uma vigília de oração em frente ao condomínio do pai. Com tom messiânico, o senador falou em buscar “o Senhor dos Exércitos”, citou provérbios bíblicos e pediu que os apoiadores se reunissem às 19h daquele mesmo sábado para orar pela saúde de Jair Bolsonaro e, nas palavras dele, “pela volta da democracia no Brasil”. O vídeo se espalhou como fogo em palha seca entre os grupos bolsonaristas, reacendendo memórias dos acampamentos que antecederam os atos de 8 de janeiro.
Para a Polícia Federal e o ministro Alexandre de Moraes, o chamado não era apenas religioso. Era um déjà-vu perigoso. A linguagem, o local escolhido, o horário noturno e a promessa de permanência lembravam exatamente o modus operandi que mobilizou milhares de pessoas em frente a quartéis em 2022 e 2023. Relatórios de inteligência apontaram que já havia caravanas se organizando em Goiás, Minas Gerais e até no interior de São Paulo. O risco de uma nova aglomeração prolongada, com potencial de confrontos e radicalização, foi considerado intolerável.
Em tempo recorde, a PF encaminhou ao STF um pedido de prisão preventiva, argumentando que a manutenção de Bolsonaro em casa, mesmo monitorado por tornozeleira, representava ameaça concreta à ordem pública. Moraes concordou quase imediatamente. A decisão destacou que o ex-presidente, mesmo condenado, continuava exercendo influência direta sobre movimentos capazes de gerar instabilidade institucional. A vigília, portanto, funcionou como estopim para transformar a prisão domiciliar em regime fechado.
Às 6h30 da manhã, antes que qualquer apoiador pudesse chegar ao local marcado, Bolsonaro já estava dentro de uma viatura. Não houve resistência, mas a imagem do ex-presidente sendo conduzido – ainda de pijama, segundo testemunhas – rodou o mundo em poucos minutos. Do lado de fora do condomínio, apenas alguns moradores curiosos e jornalistas que passaram a noite de plantão assistiram à cena. A vigília prometida para a noite perdeu seu principal motivo, mas não necessariamente seu potencial de mobilização.
O episódio expõe, mais uma vez, o delicado equilíbrio entre o direito individual de um ex-presidente condenado e a necessidade de proteger as instituições de eventuais movimentos que tentem usar sua figura como bandeira. Um simples vídeo de pouco mais de um minuto, gravado com fundo de Bíblia aberta e tom de sermão, foi suficiente para mudar o destino de Jair Bolsonaro – pelo menos por enquanto. A vigília pode até acontecer à noite, mas agora será em frente a um portão vazio, ecoando orações para alguém que já não está mais lá.